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A sabedoria das multidões

James Surowiecki é considerado um dos mais influentes jornalistas de negócios dos EUA. O premiadíssimo editor da revista The New Yorker escreveu o best seller “A sabedoria das multidões”, livro no qual usou sua experiência no mundo dos negócios

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Amir Kanitz

9 de fevereiro de 2024

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A sabedoria das multidões

James Surowiecki é considerado um dos mais influentes jornalistas de negócios dos EUA. O premiadíssimo editor da revista The New Yorker escreveu o best seller “A sabedoria das multidões”, livro no qual usou sua experiência no mundo dos negócios

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Amir Kanitz

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Conhecer bem o contexto de atuação, avaliar corretamente os instrumentos disponíveis e buscar a melhor solução entre as possibilidades existentes: esse é um roteiro simples para qualquer gestor, seja privado ou público. O que destacarei aqui é a importância do processo para se chegar a essas informações. Diferentemente do que muitos imaginam, o caminho até as melhores decisões não pode estar dentro da cabeça de um gestor.

James Surowiecki é considerado um dos mais influentes jornalistas de negócios dos EUA. O premiadíssimo editor da revista The New Yorker escreveu o best seller “A sabedoria das multidões”, livro no qual usou sua experiência no mundo dos negócios, agregando uma série de resultados de experimentos sociais realizados por cientistas comportamentais ao longo de mais de um século, para apresentar uma tese que confronta algumas crenças muito enraizadas. Ele afirma que “o grupo é mais inteligente que o mais inteligente do grupo”. Ou seja, a sociedade é mais competente do que indivíduos quando se trata de acertar nas escolhas que envolvam decisões públicas, ainda que os indivíduos sejam geniais. Em tempo, o autor não é um socialista enrustido não, mas um aguerrido defensor do livre mercado.

A abordagem de Surowiecki se inscreve em uma clássica análise da ordem social espontânea, da qual são tributários grandes nomes como Friedrich Hayek (Prêmio Nobel de Economia em 1974), Frank Knight e Michael Polanyi. Todos liberais.

A ideia de uma inteligência coletiva não se aplica a tudo. Trata-se, porém, de uma evidência demonstrada por vários experimentos sociais e aplicável a processos que envolvam: a necessidade de se decidir com inteligência; que dependem da sincronização de vários indivíduos; e que exigem cooperação. Ora, estas são características próprias dos objetivos de qualquer organização produtiva, associação ou para formulação de políticas públicas.

É claro que a genialidade ainda pertence a indivíduos. Somente pessoas independentes têm capacidade de serem originais, fazerem descobertas e criarem alternativas. Mas, ainda assim, é o grupo que consegue encontrar os caminhos mais eficientes para maximizar a satisfação por meio da evolução de escolhas coletivas.

É só imaginarmos – como no exemplo dado pelo próprio Surowiecki – que no começo da era dos carros, quando havia, só nos EUA, mais de cem fábricas de automóveis. Muitos modelos surgiram, movidos por eletricidade, a vapor e outros já por motores à explosão. Os designs oferecidos eram variados e as opções de funcionalidades quase inesgotáveis. E em meio a essa profusão de opções, foi o MERCADO que definiu quem deveria desaparecer e quem prosperaria. Essa decisão foi coletiva, embora guiada por interesses e escolhas pessoais. Os “votos” individuais (decisão de compra) somados representaram o conjunto dos interesse por modelos menos barulhentos, com consumo aceitável de combustível, mais confortáveis e velozes. Ou seja, as pessoas, por meio de escolhas descentralizadas e independentes, definiram o que seria o automóvel. O conjunto das decisões individuais determinam o resultado social.

Não tenho dúvida de que inventores de modelos alternativos de automóveis estão acima da média de inteligência. Porém, são as pessoas comuns que – coletivamente – sabem como maximizar a satisfação por meio do processo de escolha entre alternativas variadas. Aí está a inteligência do mercado e, de acordo com a tese defendida aqui, de quaisquer decisões que pretendam alcançar um resultado público representativo.

Porém, as decisões operadas por grupos somente são boas quando permitem essas três condições:

(1) Diversidade de opiniões: os indivíduos carregam muitas informações, mesmo que sejam interpretações excêntricas, ou até intuições. Isso enriquece o panorama de opções, afinal, as descobertas mais originais às vezes soam como disparates logo que são expressadas, mas podem ser debatidas, testadas e aprovadas, ou simplesmente deixadas de lado.

(2) Independência: as diversas opiniões não devem (pelo menos não deveriam) ser determinadas por autoridades. Porém, não podemos deixar de observar que se as pessoas se reúnem para expor suas opiniões podem ser constrangidas por outras que têm mais autoridade, que são especialistas, que fazem parte de alguma elite ou que têm uma oratória convincente. Por isso, a questão não está só em reunir todos e deixar as ideias concorrerem entre si, pois esse processo pode distorcer a decisão final. O importante é conseguir saber o que a pessoa de fato pensa e não apenas como responde a uma questão quando confrontada.

(3) Descentralização: as pessoas têm a capacidade de se tornarem “especialistas” em suas localidades, em seus problemas específicos, em suas atividades produtivas e costumes próprios. Essa visão parcial é fundamental para compor um panorama mais rico e detalhado da sociedade.

No livre mercado essas condições (diversidade, independência e descentralização) estão satisfeitas, fornecendo mais alternativas, eficiência e oportunidades. E como utilizar essa riqueza social para decidir sobre a elaboração de políticas públicas?

O grande desafio é encontrar o método ou meio capaz de agregar todas essas informações proporcionadas pela diversidade, independência e descentralização. O mercado faz isso na geração do preço, que nada mais é do que uma informação condensada sobre escassez,  demandas e oportunidades.

Para nos aproximarmos de decisões mais representativas e eficientes, balizadas pelo interesse social, não podemos centralizar as decisões nas mãos de alguns gestores e de suas equipes; também não é o simples estabelecimento de um debate com várias “cabeças pensantes” que será suficiente para tomar as melhores decisões, pois não será capaz de apresentar a riqueza das posições menos especializadas do homem comum; e, finalmente, se as decisões públicas forem tomadas de forma totalmente centralizada, mesmo que abranja representantes do povo, a única coisa certa é o enorme risco de generalizar burramente a medida a ser tomada.

Precisamos orientar as decisões públicas com base em dados sobre a realidade que queremos atingir, conhecendo as pessoas reais que estão envolvidas e atuando para encontrar a solução ótima para todos, considerando a diversidade de interesses.

O bom gestor saberá se orientar por essas necessidades, desenvolvendo a capacidade de ler uma diversidade de opiniões, de vontades independentes, e com a riqueza das visões particulares. A descentralização só funciona se forem obedecidos esses parâmetros, senão teremos falsos debates, crise de representatividade e visões estreitas (ainda que técnicas) da complexidade social.

Grande parcela da sociedade brasileira anseia por líderes fortes o suficiente para imporem algum tipo de ordem à sociedade. Porém, precisamos de líderes capazes de decidir com base nos sinais emitidos pela ordem espontânea da sociedade.

 

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